TECNOLOGIA AGRÍCOLA

PARA

EXPLORAÇÃO E MANEJO

CULTURAL

DA

CANA-DE-AÇÚCAR

 

 

 

Exploração e Manejo da Lavoura da Cana-de-Açúcar

 

Definição das práticas agrícolas a serem realizadas nas áreas cultivadas com cana-de-açúcar

 

 

PARTE 3.

 

TRATOS CULTURAIS DA CANA-DE-AÇÚCAR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luiz Carlos Miller (1)

 

 

3. TRATOS CULTURAIS DA CANA-DE-AÇÚCAR

 

O grande contingente de áreas cultivadas para a produção de cana-de-açúcar encontra-se classificada na modalidade denominada de socas ou soqueiras (2º ao 5º cortes), que compõe aproximadamente 65% da área total cultivada (todos os cortes, incluindo área de renovação) ou 80% da área total destinada à colheita (Planta (hibernação) e 1º ao último corte). A cada ano parte desta área colhida é renovada, ficando esta renovação restrita às áreas com idades (anos de permanência no campo) mais avançadas e que apresentem menores produtividades (t/ha). Uma forma mais simples de entender tais subdivisões e categorizações dos canaviais é considera que um canavial pode ser subdividido em seis sextos:

Ø       Um sexto das áreas deverá ser destinado à renovação;

Ø       Outro sexto corresponderá à cana planta;

Ø       E os outros quatro sextos estarão ocupados com canas em estágio de soqueiras (2º ao 5º cortes).  As áreas que forem renovadas como cana de ano e meio passarão por um estágio denominado de hibernação, pois elas ficam um ano sem serem colhidas.

Anualmente, todas as áreas cujos canaviais apresentem idade para o corte são colhidas e destinadas para a industrialização. Depois de deduzidas as áreas que serão renovadas, as que restarem devem ser adubadas, eventualmente cultivadas (escarificação superficial do solo) e receberem aplicações de herbicidas para o controle do mato. Com este trato estas áreas estarão prontas para serem submetidas a um novo ciclo de desenvolvimento. Estas áreas cultivadas podem representar aproximadamente 67% da área total dos canaviais.

Por outro lado, as necessidades de modernização do manejo da cana-de-açúcar, mais precisamente destinadas à colheita mecânica, têm exigido que as áreas que foram renovadas no ano safra anterior sejam submetidas a um cultivo de preparação do terreno para que a mesma seja colhida mecanicamente.      

 

3.1. TRATOS CULTURAIS DA CANA PLANTA.

 

A necessidade de preparar a superfície do terreno para facilitar a colheita mecânica dos canaviais faz com que canaviais em estágio de cana-planta sejam submetidos a operações de escarificação para rebaixar a parte elevada das entrelinhas. Este trabalho deve ser feito por vota dos 45 a 60 dias depois do plantio, antes do fechamento da cultura. Ele consiste no rebaixamento do lombo deixado na entrelinha depois de realizado o plantio e tem a finalidade de nivelar a superfície do solo para a facilitar a colheita mecânica.  Estes tratos culturais são realizados com equipamentos podem executar simultaneamente aplicação de inseticidas, adubações complementares (cobertura) e o próprio trabalho de nivelamento do terreno (figura 3.1.a.). Esta operação de rebaixamento do lombo é realizada com tratores de potencia entre 85 e 140Hp, dependendo do tamanho do equipamento utilizado para o trabalho.

Esta operação é realizada com equipamentos constituídos por hastes subsoladoras reguladas para operar a pouca profundidade. Elas estão montadas em equipamentos utilizados para o cultiva de forma geral e estão equipadas com adubadeiras e um conjunto de grades ou rolos para quebrarem os torrões levantados pelas pontas dos escarificadores (figura 3.1.b.). A aplicação de fertilizantes complementando a adubação básica colocada no fundo do sulco por ocasião do plantio será função do manejo da fertilidade dos canaviais neste estagio de desenvolvimento (cana planta).

 

Figura 3.1.a.- Fluxograma para o planejamento das recomendações e das operações  utilizadas para a realização dos tratos culturais das áreas de cana planta. 

 

O ato de revolver o solo durante a operação de escarificação para rebaixar a entre linha para nivelar o solo pode expor as sementes e dependendo das espécies infestantes encontradas na área será prudente realizar uma aplicação de reforço para eliminar a nova leva de sementeira (figura 3.1.b.).

 

Foto 3.1.b. – Equipamentos para a aplicação de fertilizantes químicos em áreas de cana-planta e aplicação de herbicidas após o rebaixamento das soqueiras.

 

 

De forma geral, as plantas daninhas são em sua maioria de folhas largas e aparecem em pequena quantidade (importante lembrar que já houve uma aplicação de herbicida) na entrada do inverno por ocasião do plantio. Da mesma forma, este revolvimento do solo pode facilitar ou impedir o aparecimento de pragas de solo e se for necessária a aplicação de inseticidas no solo, esta operação de escarificação também proporcionará alternativas para a sua aplicação.  

 

3.2. TRATOS CULTURAIS DA CANA SOCA.

 

O comportamento semiperene de desenvolvimento faz com que os canaviais, depois de colhidos, possam ser preparados para mais uma estação de crescimento e produção da cana-de-açúcar. Esta preparação inclui um eventual ajuntamento da palha e movimentação ou não do solo nas entrelinhas da cana. Independente desta operação de movimentação do solo é fundamental o fornecimento de fontes de nitrogênio e potássio na forma de N,P,K, ainda que os nutrientes com maiores respostas para as soqueiras sejam nitrogênio e potássio. 

Além da fertilização, são necessários cuidados com a limpeza dos canaviais, que pode ser obtido com a aplicação de herbicidas. Eventualmente, e sendo necessário, são aplicados inseticidas de solo para o controle de pragas que ali ocorram (figura 3.2.a).

De acordo com o fluxograma da figura 3.2.a., a seqüência operacional inclui as operações de enleiramento, cultivo e aplicação de herbicidas. 

 

Figura 3.2.a. - Fluxo da seqüência operacional e ações realizadas durante os tratos culturais da cana soca.

 

3.2.1. Seqüência Operacional para os Tratos de Soqueiras

 

As atividades do processo tratos culturais em cana soca obedece a uma seqüência composta por tarefas que envolvem atividades de planejamento e operacionais, fruto das definições técnicas adotadas em cada unidade agroindustrial. Cada uma destas unidades adota procedimentos técnicos e operacionais específicos para tratar as soqueiras. O fluxograma da seqüência operacional (figura 3.2.a.) é uma aproximação para a maioria das operações realizadas para o trato das soqueiras.

Evidentemente, uma unidade produtora adota apenas algumas das operações mais comuns citadas no referido fluxo. Esta ilustração tem o objetivo de dar uma visão abrangente do que pode ser a atividade de tratos das soqueiras e orientar a discussão de como cada uma delas pode interferir no processo produtivo da cana-de-açúcar. 

 

3.2.1.1. Utilização da Vinhaça

 

A adubação das soqueiras nas lavouras de cana-de-açúcar pode ser conduzida utilizando-se fertilizantes químicos ou resíduos orgânicos. Em razão da grande quantidade de vinhaça, cuja riqueza em potássio é elevada e permite adubar uma extensa área, o volume de área coberta por aplicações de vinhaça dependerá apenas da quantidade de álcool produzida pelo complexo agroindustrial. Para cada litro de álcool são produzidos aproximadamente 10 litros de vinhaça.  Quanto maior a quantidade de álcool, maior será a área com cana soca coberta por aplicações de vinhaça. A grande maioria das vinhaças utilizadas como fonte de potássio para aplicações em soqueiras de cana-de-açúcar resulta de destilações de mostos (material a ser fermentado) compostos por melaço e caldo direto da cana, o chamado mosto misto (quadro 3.2.1.1.a.).

 

Quadro 3.2.1.1.a. – Composição média de vinhaça originadas de diferentes composições de mostos.

 

O potássio se destaca como a fração mais importante dentre os mais importantes nutrientes que são encontrados na composição da vinhaça. Em quantidades menores, mas com certa significância aparece o nitrogênio, que, contudo, deve ser complementado com fontes minerais quando a vinhaça é utilizada para o suprir os principais nutrientes em canaviais em estágio de soqueira. O fósforo aparece em quantidades mínimas, mas ainda pode contribuir com aproximadamente 25 a 30kg/ha, quando a vinhaça é aplicada em torno de 100m3/ha. Os outros elementos (Ca e Mg) apenas são adicionados ao solo, já que o seu fornecimento prioritário ocorre com a aplicação de corretivos.

O armazenamento, o transporte e a aplicação da vinhaça no campo são orientados por normas muito claras estabelecidas pelos órgãos ambientais de cada estado (fotos 3.2.1.1.b., 3.2.1.1.c., 3.2.1.1.d.). No caso do Estado de São Paulo, a CETESB estabelece as normas para o uso do subproduto, as quais são incorporadas por outros Estados para onde as agroindústrias têm se expandido. 

Como acima referido, as aplicações de vinhaça são realizadas com base nos conteúdo de potássio. Contudo, as aplicações mais comuns ficam em volumes ao redor de 80 a 100m3/ha. Caso a vinhaça possibilitasse a aplicação de volumes mais baixos, a aplicação poderia ser comprometida por especificações dos equipamentos. Quando a aplicação é feita através de rolões, a velocidade de recolhimento das mangueiras e dos aspersores pode dificultar a aplicação de volumes muito baixos. 

Os volumes costumeiramente utilizados (80 a 100m3/ha) são suficientes para suprir as necessidades de potássio, porém  não são suficientes para fornecerem as quantidades necessárias de nitrogênio. Neste caso, haverá a necessidade de uma  complementação com adubos nitrogenados.

 

Foto 3.2.1.1.b. – Estrutura impermeabilizada para armazenamento e transporte sobre o solo.

 

Foto 3.1.1.1.c. – Estrutura para captação e bombeamento.

 

 

Foto 3.2.1.1.d.Estruturas para transporte e aplicação em áreas de soqueiras.

 

3.2.1.2. Enleiramento dos Restos de Palha

 

As áreas com cana, colhidas manualmente, são freqüentemente trabalhadas para terem os restos da palha, que são deixados no terreno, aleirados de forma que o terreno fique com a superfície limpa e facilite a operação de escarificação, aplicação do fertilizante e deixe preparado do terreno para a aplicação de herbicida (fotos 3.2.1.2.a.).

 

Foto 3.2.1.2.a. Enleiramento dos restos de palha de áreas colhida manual e mecanicamente.

 

No caso da adoção da colheita mecânica da cana, os restos de palha são deixados sobre o terreno, podendo ou não ser aleirados. Ao ficar sobre o terreno pode servir de mecanismo protetor ao solo minimizando a evaporação da água do solo e de auxilio no controle de parte de espécies que encontradas nos terrenos cultivados com a cana.

Entretanto, a permanência da palha sobre o solo tem favorecido o aparecimento de pragas (cigarrinha das raízes) que dependendo dos níveis de infestação podem provocar severos danos sobre a produtividade. Por esta razão, em algumas regiões a palha vem sendo aleirada. A retirada da palha de sobre as linhas de cana é feita deixando-se duas (colheita mecânica) ou quatro (colheita manual) entrelinhas limpas e uma com a palha ou apenas afastando-se a palha das linhas de cana (fotos 3.2.1.2.b.) no caso da colheita mecânica da cana.

 

Foto 3.2.1.2.b. Equipamento para afastar a palha da linha de cana e o resultado da proporcionado pela operação em canaviais colhidos mecanicamente.

 

Ainda que a palha possa trazer benefícios para o terreno, alguns estudos   indicam que permanência da palha sobre o terreno pode levar a condições desfavoráveis para a produção dos canaviais quando as mesmas permanecem cobrindo todo o terreno cultivado com a cana (figuras 3.2.1.2.c. e 3.2.1.2.d.).

 

Foto 3.2.1.2.c. Efeito da retirada da palha do campo sobre a produtividade agrícola.

Foto 3.2.1.2.d. Comportamento da presença de cigarrinha ao longo do tempo nos canaviais.

Fonte: Campos, L.H.F. - Revista da STAB – julho /agosto - Vol. 26 - nº 6 - 2008, Piracicaba, SP.

 

3.2.1.3. Fertilização Química das Soqueiras

 

A adubação química, quando utilizada de forma exclusiva em canaviais em estágio de soqueiras visa atender as necessidades dos principais macronutrientes necessários para nutrição da cana. Também pode ser utilizada como forma de complementar o Nitrogênio demandado após as aplicações de vinhaça. Estes adubos podem ser fornecidos aos canaviais tanto na forma sólida, o que é mais comum, ou na forma líquida, este um pouco menos comum, apesar de ser utilizado por diversas empresas no meio canavieiro.

 

Ø       No caso da adubação é exclusivamente química, ela é feita utilizando-se fertilizantes formulados, sólidos ou líquidos, seguindo determinadas recomendações técnicas (tabela 3.2.1.3.a.). Contudo, na prática, utiliza-se ao redor de 500kg/ha da fórmula 25-00-25 (125kg de N, zero de P2O5 e 125kg de K2O por hectare) de  o que faria com que a recomendação atendesse a faixa de produtividade esperada de 110t/ha.

 

Quadro 3.2.1.3.a. – Recomendação técnica para adubação de soqueiras de cana-de-açúcar.

Produtividade esperada

 (t/ha)

Nitrogênio

 

(Kg N/ha)

ppm de P (Resina (1)

mmolc/dm3 de K

< 15

> 15

0-1,5

1,51-3,0

> 3,0

Kg de P2O5 / ha

Kg de K2O / ha

80

90

40

0

110

80

60

90

100

50

0

125

100

85

100

110

60

0

140

125

110

110

120

80

0

150

140

130

(1) Extrator para fósforo (IAC)

 

O fato de haver uma certa tradição nas formulações e quantidades recomendadas para a adubação das soqueiras não deve inibir os técnicos de procurarem utilizar as recomendações tecnicamente mais desenvolvidas (tabela 3.2.1.3.a.), pois além de proporcionarem maior racionalização do uso dos fertilizantes, proporciona como contrapartida, ganhos de produtividade e redução nos custos finais de produção. Ao contrario, recomendações, como aquelas constantes da tabela acima, deveriam ser rotineiramente avaliadas, para verificar o seu nível de atualidade (tabela 3.2.1.3.b.).    

 

Tabela 3.2.1.3.b.Resultados para a produtividade agrícola (t/ha) de cana para doses crescentes de fertilizantes N, P2O5, e K2O.

Quantidade aplicada em kg/ha

 

Produtividade

N

P2O5

K2O

Épocas de aplicação

(t/ha)

0

0

0

 

76,83

50

0

75

Todo no cultivo

84,20

75

0

100

Todo no cultivo

86,74

100

0

125

Todo no cultivo

88,84

50

0

75

 1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses

92,35

75

0

100

 1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses

89,69

100

0

125

 1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses

90,38

Fonte: Miller, L.C. e Medeiros, A.M.L. – Relatórios internos do DTA / Usina São João – safras 1977/78 a 1980/81.

 

Ø       A aplicação de adubo nitrogenado para a fertilização complementar da quantidade de N proporcionada pela aplicação de vinhaça mostra-se bastante efetiva em algumas aplicações (tabela 3.2.1.3.c.).  Contudo, quando analisado num conjunto substancial de dados este efeito do nitrogênio torna-se mais evidente. A recomendação corrente indica aplicações de aproximadamente 100kg de N /ha, nas diferentes fontes disponíveis no mercado. Quando for utilizada a uréia como fonte de N complementando a aplicação da vinhaça,  recomenda-se que a mesma seja incorporada ao solo. Entretanto, a utilização de Sulfato de Amônio não demanda o mesmo cuidado, podendo permanecer por algum tempo na superfície do solo. 

 

Tabela 3.2.1.3.c. – Efeito da complementação com nitrogênio (Uréia) em três tipos de solos, cultivados com cana soca.

Tratamentos

Tipos de Solos

Básico

Complementar Uréia

LR

TE

LVe

Testemunha

0

103,3

112,4

72,9

360 kg/ha de 20-00-32

0

114,6

145,3

85,2

90m3 de vinhaça

0

122,0

126,8

79,5

90m3 de vinhaça

100

126,3

149,4

88,9

90m3 de vinhaça

133

128,9

 

 

90m3 de vinhaça

200

130,6

127,8

86,2

90m3 de vinhaça

266

126,8

 

72,9

Fonte: GLORIA, N. A. da - 3º Congresso Nacional da STAB, agosto de 1984, São Paulo.

 

A atuação de adubações fosfatadas em soqueiras não se mostra muito efetiva, a menos que os solos onde forma implantados os canaviais se apresentem com conteúdos demasiadamente baixos do referido nutriente. Avaliações experimentais conduzidos nas principais regiões produtoras de cana através de experimentos específicos mostram claramente que o fósforo residual de aplicações realizadas durante o plantio da cana-planta são suficientes para suprir a demanda das soqueiras.

Medeiros (1988) relata experiência com uma avaliação deste comportamento do fósforo em experimento conduzido num solo de textura média para arenosa, sob vegetação natural de cerrado e com baixíssimo conteúdo de fósforo (2ppm extraídos através de RESINA trocadora) para avaliar o efeito residual do P aplicado em cana-planta. Os resultados mostram que o fósforo aplicado na cana-planta foi bastante efetivo até a 2ª soca, (equivalente ao 3º corte) para as doses equivalentes àquelas recomendadas tecnicamente (150kg/ha de P2O5) para o plantio de cana  (tabela 3.2.1.3.e.). Tal anormalidade pode ser verificada observando-se o efeito das adubações com fósforo realizadas nas soqueiras, suplementando a dose de (150kg/ha de P2O5) da adubação residual (aquela aplicada no plantio).

Os nutrientes Nitrogênio (125kg/ha de N) e Potássio (125kg/ha de K2O) também foram fornecidos às soqueiras em todos os cortes, na forma de produtos químicos sólidos, obedecendo sempre às recomendações rotineiramente utilizadas na Empresa.

 

Tabela 3.2.1.3.e. – Demonstração do efeito residual em soqueiras do fósforo aplicado em cana-planta. 

Adubação (kg de P2O5 / ha)

Produtividade (t de cana / ha)

Tratamento (T)

Sub-tratamentos (S.T.)

(T)

(T)

(S.T)

(T)

(S.T)

(T)

(S.T)

Cana Planta

1ªSoca 

2ªSoca 

3ªSoca 

C. Planta

1ªSoca

2ªSoca

3ªSoca

 

0

0

0

 

 

69

 

63

 

54

0

45

0

45

61

86

89

84

87

78

86

 

90

0

90

 

 

102

 

103

 

93

 

0

0

0

 

 

116

 

98

 

72

150

45

0

45

128

116

120

106

111

83

88

 

90

0

90

 

 

112

 

109

 

88

 

0

0

0

 

 

119

 

114

 

81

300

45

0

45

131

119

120

114

112

86

90

 

90

0

90

 

 

119

 

116

 

88

Fonte: Medeiros, A.M.L. - Seção de Nutrição e Fertilidade, DTA, Usina São João de Araras /SP, 1988.

 

Se no estágio de cana planta a demanda por adubação nitrogenada é relativamente baixa, na condição de cana soca esta demanda é mais elevada e o efeito da quantidade do nutriente é bastante pronunciado sobre o desenvolvimento da planta. O potássio por sua vez apresenta ganhos constantes quando aplicados, porém sempre com pequenas amplitudes sobre os ganhos de produtividade da cana.

 

3.2.1.3.1.Cultivo e Aplicação do Fertilizante (Tríplice Operação)

As aplicações de fertilizantes químicos (cana soca) e a operação de nivelamento da entrelinha (cana-planta) de cana podem realizadas com os mesmos tipos de equipamentos (fotos 3.2.1.3.1.a.). Em ambas as situações, a operação é realizada utilizando-se de um equipamento que efetua ao mesmo tempo três operações (por isso denominada de tríplice operação): a aplicação do fertilizante líquido ou sólido  (caso esteja indicado), uma escarificação superficial (10 a 15cm) e o destorroamento dos torrões maiores levantados pelas hastes, cujo elemento de atuação pode ser um conjunto de grades ou um rolo composto por cantoneiras de ferro.

Este conjunto localizado na parte posterior do equipamento ajusta a sistematização do terreno para facilitar o trabalho da colhedeira mecânica e prepara o solo para aplicações de herbicidas tanto na cana planta, quanto na cana soca, especialmente na cana soca, quando a escarificação é adotada como prática de cultivo.

A escarificação do solo isoladamente não apresenta efeitos sobre a produtividade de cana, enquanto operação para a movimentação do solo. As hastes subsoladoras efetivamente movimentam o solo até a profundidade de 15 a 20cm e o conjunto de grades ou rolos quebram eventuais blocos de tamanho avantajado.

Este trabalho certamente prepara o solo para aplicações de herbicidas em pré-emergência e facilita a incorporação dos mesmos aos agregados do solo.

 

Foto 3.2.1.3.1.a. – Equipamentos para a aplicação de fertilizantes químicos em áreas de soqueiras.

 

Estudos conduzidos para a avaliação da eficiência da operação foram desenvolvidos por diferentes instituições (tabela 3.2.1.3. 1.b.) e raramente observaram resultados significativos para a operação isoladamente.

 

Tabela 3.2.1.3.1.b. – Produtividade agrícola para tratamentos de subsolagem em soqueiras e adubação.

Tratamentos

Nº  de colmos/ m

t de cana/ ha

A -Testemunha não adubada

11,0

80,4

B - Adubação Superficial  15 dias

12,9

105,3

C - Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 15 dias após o corte

12,0

99,5

D - Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 30 dias após o corte

11,4

94,8

E - Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 45 dias após o corte

11,9

96,1

F - Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 60 dias após o corte

11,7

97,6

G - Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 15 dias após o corte

11,8

97,6

H - Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 30 dias após o corte

10,7

90,2

I -  Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 45 dias após o corte

11,5

89,7

J - Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 60 dias após o corte

12,1

96,4

Fonte: V. L. FURLANI NETO*; J. FERNANDES*; R. STOLF*; A. J. ROSSETTO**; L. C. MILLER**; A. M. L. MEDEIROS** - 3º Congresso Nacional da STAB, realizado entre 19 e 24 de agosto de 1984. Pg. 55-59.

 

No referido trabalho, conduzido em canaviais com socas de terceiro corte, a adubação superficial cobrindo-se o adubo com uma fina camada de terra sobre a soqueira, não diferiu da adubação em profundidade, associada à subsolagem com hastes providas de duas pequenas aletas, uma de cada lado da haste, trabalhando entre 20 e 40cm de profundidade. Os tratamentos forma aplicados entre 15 e 60 dias após o corte da cana.

Apesar de ser um instrumento eficaz na descompactação dos solos, a aplicação do equipamento mostrou que em épocas secas pode apresentar efeito danoso nas soqueiras, quando ela trabalha em ambos os lados da soqueira.

 

3.2.2. Proteção Fitossanitária dos Canaviais.

 

Como qualquer outra cultura, as lavouras de cana-de-açúcar também precisam de proteção contra a concorrência de fatores limitadores da produtividade. Dentre eles encontram-se as plantas daninhas e as pragas (de solo e da parte aérea). Cada um destes fatores de perda tem a sua especificidade e atuam de maneiras particulares na limitação do desenvolvimento das plantas.

 Independentemente do estágio (cana planta ou soqueira) em que se encontrem os canaviais os controles fitossanitários devem se empregados para evitar perdas de produtividade e qualidade da matéria-prima. Dentre estes cuidados fitossanitários destacam-se prioritariamente o controle das plantas daninhas, seguido do controle de pragas, fatores estes que podem impor os maiores volumes de perdas às lavouras de cana-de-açúcar, quando manejados incorretamente.    

 

3.2.2.1. Controle das Plantas Daninhas

 

Como em qualquer outra cultura, os efeitos da presença do mato durante os períodos iniciais de desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar, pode causar significativas perdas de produtividade (t/ha) quando a população destas plantas daninhas não é eliminada ou mantida em níveis bem baixos.    

A ausência de um controle eficaz do mato e a perenidade característica da cultura da cana são condições que favorecem a concorrência competitiva promovidas pelas plantas daninhas. A permanência dos canaviais nos campos sob longos períodos – entre o nascimento e a colheita – torna as plantas sujeitas às interferências do mato sobre a produtividade. 

A concorrência e a competição são os dois conceitos que permitem caracterizar os graus de interferência das plantas daninhas sobre o desenvolvimento da cultura. A partir do momento em que a planta daninha germina e inicia seu desenvolvimento, ela passa a concorrer, no mesmo espaço físico, em água e nutrientes com a planta cultivada. Dependendo de seu porte e hábito, a planta daninha permanecerá durante o seu desenvolvimento convivendo no mesmo espaço, apesar dos danos causados ao desenvolvimento da lavoura cultivada. Porém, na medida em que a planta invasora apresenta hábito mais agressivo, ela passará a competir pelo espaço físico, causando danos sensivelmente drásticos à cultura.

Comumente, lavouras implantadas em solos de média fertilidade, com características físicas adequadas e adubadas convenientemente, que poderiam atingir elevado número de cortes (6 a 8) com produtividades economicamente viáveis, têm estas duas condições afetadas, dependendo do grau de infestação de plantas daninhas a que são expostas.

Na cana-de-açúcar, estes danos podem determinar a reforma do canavial, em dois ou três anos após o seu plantio. Isto pode acontecer, por exemplo, com canaviais plantados em áreas de antigas pastagens, cultivadas com braquiárias forrageiras. Nestas áreas, quando o controle não é adequadamente realizado, os canaviais raramente atingem o terceiro corte e com produções acima de 50 t/ha.

 

3.2.2.1.1. Hábitos de Crescimentos das Plantas Daninhas

 

Toda planta presente em um campo de cultivo que não seja da espécie cultivada naquela área, que concorra dentro do mesmo ambiente por água, luz, espaço físico e nutriente pode ser caracterizada como planta daninha. Esta caracterização pode levar uma planta cultivada comercialmente em um momento tornar-se daninha quando convivendo com outra espécie também cultivada comercialmente.

Contudo, a maioria das espécies caracterizadas como planta daninha não tem valor comercial, apresentam elevada rusticidade e causam severas perdas para as plantas cultivadas quando ocorrem em grandes quantidades nos campos cultivados. Na cana-de-açúcar isto não é diferente e apesar de sua rusticidade a presença de plantas daninhas pode impor pesadas perdas de produtividade. As plantas daninhas são comumente caracterizadas pelos seus ciclos de crescimento e de desenvolvimento.   

 

Ø                                                                                           Plantas de hábito anual – são aquelas que tem um ciclo completo em um ano, germinando, desenvolvendo, florescendo e produzindo sementes neste intervalo de tempo;

Ø                                                                                           Plantas de hábito bi-anual – são plantas que completam os seus ciclos vegetativos em dois anos, sendo que no primeiro ano se desenvolvem vegetativamente e no segundo se reproduzem;

Ø                                                                                           Plantas de hábito perene – são plantas com características distintas entre as espécies, mas que depois de um período de desenvolvimento, passam a se reproduzir anualmente.

 

3.2.2.1.2. Tipos de Aplicação de Herbicidas e da Caracterização dos Produtos

 

Os tipos e momentos de aplicação de um herbicida estão condicionados às características dos produtos e   aos estágios de desenvolvimento da planta daninha. Estas duas características conferem à aplicação do produto e ao próprio produto uma classificação importante para as indicações dos procedimentos indicados para o controle do mato, quando se materializa uma recomendação de controle.

 

a)      Quanto aos tipos de aplicação: os tipos de aplicação e utilização dos produtos podem servir para conferir alguma caracterização das aplicações de herbicidas:

Ø       Aplicação como Esterilizante de Solo: são aplicações com produtos de amplo espectro de atuação, visando controlar o maior número de espécies de plantas daninhas pelo maior tempo possível. Este tipo de aplicação é utilizado em pátios industriais, áreas de ocupação com estrada de ferro, áreas de cercas nas pastagens, etc.

Ø       Aplicações em Pré-Plantio: Aplicações em pré-plantio são realizadas para o controle de plantas daninhas quando o produto precisa ser incorporado ao solo, quando a cultura principal necessita de um tempo de permanência no solo para ela ser plantada ou em áreas com cultivo mínimo. É relativamente pouco utilizado na cultura da cana, mas pode-se citar como exemplo a eliminação dos restos de cana quando se pretende plantar com cultivo mínimo, aplicações incorporadas de trifluralin para o plantio de leguminosa ou alguns produtos que poderiam trazer danos à cultura em determinadas dosagens ou momentos de aplicação.

Ø       Aplicações em Pré Emergência: São aplicações realizadas antes do início da emergência das plantas daninhas, não necessariamente antes da cultura.

Ø       Aplicações em Pós Emergência: São aplicações realizadas após a emergência da planta daninha. Em determinadas condições pode ser denominada como capina química.

  

b)      Quanto ao tipo de ação do produto que pode indicar a sua classificação nos dois principais  modos de suas atuações. Estas características não são  necessariamente excludentes entre si, possibilitando que um produto indicado para aplicações em uma forma não tenha sua eficácia na outra. O que fará diferença será o comportamento em que cada produto apresentará a sua melhor ação sobre o mato:

 

Ø       Ação em pré-emergência: Neste tipo de ação são posicionados produtos, cuja aplicação, para expressar a sua eficácia, deve ocorrer antes da emergência dos primórdios vegetativos das sementes das plantas daninhas, seja através da emissão das radículas nas gramíneas, ou através da liberação dos cotilédones nas dicotiledôneas. É a forma mais comum de aplicação de herbicidas e a mais presente nos diferentes produtos disponíveis no mercado.  

Ø       Ação em pós-emergência: São produtos cujas características mais destacadas estão relacionadas com a absorção foliar. São aplicados após o nascimento das plantas daninhas e como podem ser danosos para a cultura principal demandam cuidados especiais quando da sua aplicação para o controle das espécies infestantes da cultura.  

 

3.2.2.1.3. Danos das Plantas Daninhas nos Canaviais.

 

As plantas daninhas crescem e povoam as áreas cultivadas nas mesmas épocas que as culturas cultivadas também expressam as suas máximas competências de crescimento e desenvolvimento (figura 3.2.2.1.3.a.).

Portanto, se a presença de plantas daninhas é danosa para a cultura da cana, ao concorrer por espaço, nutrientes e água, a sua eliminação nestes períodos será um fator de grande importância para a produtividade da cana. Nas curvas de crescimento e produtividade de massa verde da figura 3.2.2.1.3.a.as produtividades são uma estimativa média para os canaviais dos estados da região centro-sul do Brasil. No caso da massa verde do mato, estas serão quantidades máximas que poderão ser observadas. De forma geral, as quantidades de massa verde das plantas infestantes não atingirão os valores máximos expostos no gráfico.

Entretanto, o comportamento da curva de crescimento para as plantas daninhas expressa o comportamento da curva presencial das espécies daninhas nos diferentes momentos do ano agrícola. Assim, para cada condição de condução do canavial a presença da planta daninha terá um comportamento específico e um determinado nível de dano à produção agrícola, dependendo do volume de mato e das espécies infestantes  existente na área cultivada.   

 

Figura 3.2.2.1.3.a. – Curvas de crescimento da cana e da planta daninha.

 

a)      Efeito sobre a Cana de Ano: O plantio da cana de ano é realizado entre os meses de setembro e outubro, coincidindo, portanto, com o momento de maior desenvolvimento das plantas daninhas. Nesta época as condições climáticas, temperatura e umidade, são bastante favoráveis para o crescimento vegetal na região Centro Sul do Brasil. Algumas observações experimentais mostram que canaviais plantados nestas épocas e submetidos a uma acentuada concorrência do mato durante diferentes  fases de seu desenvolvimento, podem ser intensamente afetados pela presença da planta daninha (tabela 3.2.2.1.3.b.).

 

Tabela 3.2.2.1.3.b. - Perdas de produtividade em cana de ano em razão da concorrência do mato.

 

Tratamento

 

T cana /ha

Perdas por matocompetição

 

Pol % cana

Com Competição durante 1mês

37,50 a

0,9

14,44

Com Competição durante 2 meses

33.98 a

10,2

14,33

Com Competição durante 3 meses

24,70 b

34,7

13,89

Com Competição durante 4 meses

7,99 c

78,9

14,59

Com Competição durante 5 meses

6,30 c

83,4

14,36

Sem competição durante 1 mês

23,86 b

37,0

14,76

Sem competição durante 2 meses

33.43 a

11,7

14,62

Sem competição durante 3 meses

36,95 a

2,4

14,31

Sem competição durante 4 meses

37,15 a

1,8

14,42

Sem competição durante 5 meses

36,46 a

3,7

14,05

Com Competição durante todo o ciclo

5,11 c

86,5

13,95

Sem Competição durante todo o ciclo

37,85 a

0,0

14,30

Fonte: Rolim, J.C. - Revista Saccharum, Ano V - N 22 – 1982.

 

Neste estudo a população de plantas daninhas era ocupada prioritariamente por gramíneas da espécie brachiaria (capim marmelada), sabidamente muito competitiva para com as plantas cultivadas (tabela 3.2.2.1.3.c.). As produtividades baixas são fruto de uma geada que paralisou o crescimento das plantas próximo dos 10 meses de idade.

 

Tabela 3.2.2.1.3.c.- Infestação de Plantas Daninhas aos 90 dias após o Plantio, nº de plantas /m2 e composição percentual da infestação (dados médios de quatro repetições).

Espécies infestantes        

Nº de Plantas/ m’

% de infestação

Capim-marmelada, Brachiaria plantaginea.

21,25

50,11

Capim-colchão, Digitaria sanguinalis.

11,92

28,11

Poaia branca, Richardia brasiliensis.

5,83

13,75

Beldroega, Portulaca oleraceae.

2,83

6,67

Guanxuma, Sida spp.

0,58

1.36

Total

42,41

100,00

Biomassa seca (g)

362,23

 

 

Os dados obtidos neste estudo, conduzido com cana de ano, mostram que as produtividades podem apresentar perdas de até 86% da produtividade final de cana ao compara-se o tratamento onde a cana foi continuadamente mantida no limpo com o tratamento onde a cana foi deixada todo o tempo sob total concorrência do mato, em cuja população florística encontrava-se basicamente gramíneas (gráfico 3.2.2.1.3.d.)  

 

Gráfico 3.2.2.1.3.d.- Comportamento das perdas de produtividade em cana de ano.

Fonte: Rolim, J.C. - Revista Saccharum, Ano V - N 22 – 1982.

 

b)      Efeito sobre a Cana de Ano e Meio: A cana de ano e meio é plantada normalmente a partir do mês de fevereiro, estendendo-se até o mês de abril. Nesta época, as chuvas começam a diminuir e a curva de presença do mato começa a entrar em declínio. Desta forma, os efeitos do mato passam apresentar uma tendência de menores efeitos sobre a produtividade da cana. 

Obviamente, a população florística e a capacidade infestante das sementes encontradas na área serão determinantes na potencialidade de danos das plantas daninhas sobre o canavial, caso as mesmas não sejam devidamente eliminadas. Através de estudo conduzido para avaliar o potencial de dano de espécies daninhas em cana planta de ano e meio pode determinar os danos sobre a produtividade de cana.

Os dados sobre as espécies não definem o tamanho da ocupação da superfície pelas plantas daninhas, apenas a participação de cada espécie. Observando-se as espécies presentes neste ensaio, fica evidente que elas não apresentam a mesma potencialidade de dano que a da população de plantas daninhas encontrada no ensaio conduzido para cana de ano (tabela 3.2.2.1.3.e.).

 

Tabela 3.2.2.1.3.e.- Composição florística das plantas daninhas presentes no ensaio.

 

ESPÉCIES INFESTANTES

Valores Médios de 6 Parcelas

Densidade - Plantas /m2

Participação (%)

Capim Colchão, Digitaria sanguinalis

33

61,10

Guanxuma, Sida spp

18

33.30

Diversos (outras espécies)

3

5,60

TOTAL

54

100,00

 

Comparando-se as magnitudes de perdas, observa-se que as perdas na cana de ano apresentaram valores significativamente maiores que aquelas observadas no ensaio com cana de ano e meio. Ainda que as condições climáticas naturais contribuam para minimizar as capacidades de danos das plantas daninhas nesta época do ano, a ausência de cuidados no controle das plantas daninhas poderá ser muito danoso para os canaviais (tabela 3.2.2.1.3.f.).

As perdas relatadas para o ensaio em cana de ano e meio estão expressas em forma de gráfico para facilitar a visão da magnitude das perdas em produtividade (gráfico 3.2.2.1.3.g.).

Estas considerações sobre potencialidade de danos conforme os níveis de infestação das plantas daninhas são direcionadas basicamente para espécies infestantes anuais.

Contudo, devemos considerar as espécies perenes como fonte de concorrência para com a produtividade agrícola da cana. Elas permanecem nos canaviais durante os estágios de soqueiras e são muito mais danosas para a produtividade agrícola do que as plantas daninhas com hábitos anuais.

    

Tabela 3.2.2.1.3.f. - Perdas de produtividade em cana de ano e meio em razão da concorrência do mato.

Tratamentos

Código

Discriminação

Produção

(t/ha)

Colmos

por m’

 

 

 

A - Controlo total do mato

01

L

30

até 30 dias

88,08

10,37

02

L

60

até 60 dias

89,28

11,53

03

L

90

até 90 dias

96,42

10,03

04

L

120

até 120 dias

96,81

11,07

05

L

150

até 150 dias

92,85

10,27

 

 

 

B - Abandonado à livre competição

 

 

06

M

30

até 30 dias

100,39

10,37

07

M

60

até 60 dias

92,85

9,67

08

M

90

até 90 dias

87,69

9,33

09

M

120

até 120 dias

76,97

9,70

10

M

150

até 150 dias

79,35

9,67

 

 

 

C - Controle químico

 

 

11

H

1

*Diuron (2,0) + **2,4D, amina (2,0)

92,85

10,97

12

H

2

***Tebuthiuron (1,5)

92,05

10,97

*Karmex800 (DuPont) **DMA-6 (Dow) e ***Perflan800 (Elanco)­, em kg ou l /ha do P. C.

 

 

Gráfico 3.2.2.1.3.g.- Comportamento das Perdas de Produtividade em cana de ano e meio.

Fonte: Coleti, J.T. - Revista Saccharum, Ano V - N 22 – 1982.

 

Conviver com plantas daninhas de hábito perenes é sempre indesejável, além de ser muito trabalhoso, elevar os custos operacionais, diminuir a produtividade e demandar cuidados diferenciados para o seu controle. Para que o controle destas espécies seja mais eficiente, ele deve iniciar-se com a preparação do solo, onde se deve investir para reduzir ao mínimo a população das plantas daninhas com estes hábitos.

Aplicações em pós-emergência para o controle destas plantas devem ser conduzidas apenas nos primórdios vegetativos. Nunca se deverá permitir que logo após o nascimento, ainda em está de cana planta os canaviais sejam tomados por infestações pesadas de espécies com hábito perene.

 

c)      Efeito sobre a Cana Soca: Uma observação das curvas de crescimento de matéria verde constantes do  gráfico da figura 3.2.2.1.3.a. percebe-se que durante a safra as condições de umidade são desfavoráveis para o crescimento vegetal. A partir do início das chuvas a cana e o mato e as soqueiras iniciam as suas fases de crescimento, condição esta que começa aproximadamente a partir do mês de outubro.

As áreas com canaviais em estágio de soqueiras representam aproximadamente 75% da área total cultivada com cana em um empreendimento agroindustrial. O fato de os canaviais neste estágio de desenvolvimento terem sido submetidos a aplicações anteriores de herbicidas, faz com que o potencial de infestação de plantas daninhas tendam a ser menores.

Isso não é casual. Os programas de herbicidas normalmente contemplam aplicações de herbicidas mais eficientes e caros para o controle das plantas daninhas por ocasião do plantio e nos primeiros cortes. Com este procedimento promove-se um relativo despraguejamento da área, possibilitando a aplicação de produtos mais baratos nos cortes posteriores, sem comprometer a qualidade do controle de plantas daninhas.

Neste conjunto de produtos disponíveis no mercada para serem utilizados em cana soca existem aqueles com maiores níveis de solubilidade e menores níveis de susceptibilidade à decomposição pela luz do sol. Isto facilita aplicações em áreas colhidas nos momentos de menor disponibilidade hídrica (chuva) e permite que a aplicação seja continuada durante todo o período de safra.

Por outro lado, os produtos que demandam maiores níveis de umidade no solo e são mais sensíveis à foto decomposição podem ser recomendados para aplicações após o inicio das chuvas, o que coincide com a metade final da safra.

A utilização deste procedimento na recomendação e uso de herbicidas, adequando os produtos para os seus melhores momentos de atuação sobre o mato, proporciona os melhores níveis de controle do mato e um maior aproveitamento das máquinas disponibilizadas nas empresas para este tipo de trabalho.    

 

 

3.2.2.2. Aplicação de Herbicidas (seqüência operacional dos tratos culturais).

 

As aplicações de herbicidas são majoritariamente realizadas utilizando-se de tratores equipados com tanques que permitem uma cobertura mais abrangente do solo (figura 3.2.2.2.a.). Isto acontece tanto em canaviais em estágio de cana planta como em soqueiras. Aplicações manuais devem ser vistas como uma complementação do trabalho mecanizado, tendo como finalidade controlar as plantas que por alguma razão escaparam do controle que deveria ser proporcionado pela aplicação básica. 

Os produtos, por sua vez, necessitam de condições prévias do solo para mostrarem o seu potencial na eficiência do controle do mato. Três condições são muito importantes para garantirem a eficácia de um produto herbicida para controlar espécies infestantes das áreas cultivadas.

 

Figura 3.2.2.2.a. – Aplicação de herbicidas em áreas com cana planta.

Figura 3.2.2.1.b. – Aplicação de herbicidas em áreas com soqueiras.

 

Ø       Disponibilidade hídrica: A umidade existente no solo exerce um papel importante na adsorção do produto às partículas do solo. Durante a sua incorporação ao solo, a umidade faz com que os ingredientes ativos dos produtos atinjam o maior volume possível de partículas no seu processo de incorporação ao solo. Ao proporcionar esta movimentação do produto no solo,  esta fase líquida do solo também proporciona a entrada do ingrediente ativo na planta, seguindo o fluxo natural de líquidos para o interior da planta.

A umidade do solo é um fator que precisa se manejado com cuidado, pois assim como pode facilitar o encaminhamento do produto para o interior da planta, também pode criar restrições ao uso de determinados produtos. O excesso ou a falta de umidade são fatores importantes nas relações dos produtos com as plantas e com o ambiente.

A relação entre solubilidade do produto herbicida e a disponibilidade de umidade nos solos é vital para o bom funcionamento dos produtos no controle do mato. Assim, produtos com elevada solubilidade não são recomendados para serem aplicados em épocas com elevado nível de pluviosidade. Dependendo da quantidade de água no solo, o principio ativo do produto poderá ser conduzido para zona radicular com maior nível de atividade e, desta forma, deixar seqüelas  às plantas ali cultivadas.

Por outro lado, produtos mais restritivos com relação à solubilidade, que necessitam um nível maior de umidade no solo para funcionarem a contento, podem sofrer limitações na sua atuação sobre o controle das plantas daninhas. A umidade é sempre fundamental para que o produto se movimente no solo e chegue às zonas radiculares. Contudo, estes momentos  de umidade no solo, assim como as quantidades disponíveis de água devem ser bem manejadas conforme as características de cada um dos produtos que serão utilizados para o controle do mato.

 

Ø       Destruição Mecânica do Mato Remanescente: Aplicações em pré-emergência necessitam a superfície do solo absolutamente sem mato, preferencialmente sem a presença de sementes em estado pré-germinativo. A operação de revolvimento do solo, realizada antes do plantio ou durante a operação de cultivo das soqueiras, funciona como uma espécie de reforço para avolumar o efeito do herbicida no controle da planta daninha.

A última passada de grade leve, imediatamente anterior ao plantio, tem um efeito muito forte no auxílio ao efeito do herbicida sobre o mato. Para isso, ela  deveria ser feita num intervalo variando desde algumas horas antes da sulcação até eventualmente um ou dois antes da realização do plantio. É tão importante, que deveria ser uma responsabilidade do encarregado pelo plantio realizá-la e não ficar sob a responsabilidade do encarregado da preparação do solo.

Realizada neste momento, a operação faz com que parte das plantas daninhas recém germinadas ou que eventualmente já possuam alguns pares de folhas sejam totalmente destruídas pelo implemento. Aplicando este tipo de procedimento, uma parcela significativa do estoque de semente perde-se e os herbicidas previstos para atuar em pré-emergência das plantas daninhas poderão atuar no solo concomitantemente ao início da germinação de uma nova leva de sementeira.

Esta eliminação de material vegetal germinativo otimiza o efeito dos herbicidas. Os produtos atuam no máximo nos primeiros dois a três centímetros de profundidade no solo. Portanto, qualquer semente, cujo primórdio radicular que fique abaixo desta linha de atuação, deixará de absorver o produto e, portanto, será poupada.  Assim, sementes que tenham emitido seus primórdios radiculares ou os seus cotilédones deixarão de constituir ameaça. Ao aplicar a operação com grade, promove-se o trabalho de destruição do material vegeta, poupando parte do ingrediente ativo do produto.

Para aproveitar este efeito da operação mecânica no controle da sementeira é fundamental que depois de plantados, os campos recebam as aplicações de herbicidas logo em seguida, não deixando passar mais que dois a três dias depois da realização do plantio da cana. 

 

Ø      Atuação do Cultivador de Soqueiras ou Planta: Os diferentes produtos disponíveis no mercado possibilitam os mais diferentes tipos e combinações de produtos para utilizar-se no controle das plantas infestantes nas socas dos canaviais. Na forma tradicional de conduzir canaviais, a palha é aleirada, o solo é escarificado ao mesmo tempo em que se aplica o adubo, o solo é destorroado e aproveitando esta preparação do solo aplica-se o herbicida de soqueiras em seguida.

Entretanto, se o procedimento é diferente da forma tradicional, existem produtos muito bons, resistentes à decomposição e com poder residual relativamente longo, que podem ser aplicados sem que o terreno seja movimentado. Contudo, caso haja movimentação do solo, os agregados deixados depois de realizada a operação, não deverão ser de tamanho elevado, maiores do que oito (8) a dez (10) centímetros de diâmetro.

Nestes casos, o produto irá penetrar nestes agregados até a profundidade usual, ficando a parte central do torrão sem o produto. Quando as chuvas têm inicio, o torrão perde superfície por desgaste da água da chuva e as sementes que restaram no núcleo não atingido pelo produto germinam e infestam o terreno nestes pontos. Utilizar herbicidas não constitui apenas em realizar aplicações dos produtos. Implica em estar antenado para todas as variáveis do ambiente e das plantas interagindo com o produto para garantir a eficácia dos mesmos no controle das plantas daninhas que regularmente infestam os canaviais cultivados.      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(1) Engenheiro agrônomo, formado pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, atualmente UNESP, campus de Botucatu, em 1973.