TECNOLOGIA
AGRÍCOLA
PARA
EXPLORAÇÃO E
MANEJO
CULTURAL
DA
CANA-DE-AÇÚCAR
Exploração e
Manejo da Lavoura da Cana-de-Açúcar
Definição
das práticas agrícolas a serem realizadas nas áreas cultivadas com
cana-de-açúcar
PARTE 3.
TRATOS CULTURAIS DA
CANA-DE-AÇÚCAR
Luiz Carlos Miller (1)
3.
TRATOS CULTURAIS DA CANA-DE-AÇÚCAR
O grande contingente de áreas cultivadas para
a produção de cana-de-açúcar encontra-se classificada na modalidade denominada
de socas ou soqueiras (2º ao 5º cortes), que compõe aproximadamente 65% da área
total cultivada (todos os cortes, incluindo área de renovação) ou 80% da área
total destinada à colheita (Planta (hibernação) e 1º ao último corte). A cada
ano parte desta área colhida é renovada, ficando esta renovação restrita às
áreas com idades (anos de permanência no campo) mais avançadas e que apresentem
menores produtividades (t/ha). Uma forma mais simples de entender tais
subdivisões e categorizações dos canaviais é considera que um canavial pode ser
subdividido em seis sextos:
Ø
Um
sexto das áreas deverá ser destinado à renovação;
Ø
Outro
sexto corresponderá à cana planta;
Ø
E os
outros quatro sextos estarão ocupados com canas em estágio de soqueiras (2º ao
5º cortes). As áreas que forem renovadas
como cana de ano e meio passarão por um estágio denominado de hibernação, pois
elas ficam um ano sem serem colhidas.
Anualmente, todas as áreas cujos canaviais
apresentem idade para o corte são colhidas e destinadas para a
industrialização. Depois de deduzidas as áreas que serão renovadas, as que
restarem devem ser adubadas, eventualmente cultivadas (escarificação
superficial do solo) e receberem aplicações de herbicidas para o controle do
mato. Com este trato estas áreas estarão prontas para serem submetidas a um
novo ciclo de desenvolvimento. Estas áreas cultivadas podem representar
aproximadamente 67% da área total dos canaviais.
Por outro lado, as necessidades de
modernização do manejo da cana-de-açúcar, mais precisamente destinadas à
colheita mecânica, têm exigido que as áreas que foram renovadas no ano safra
anterior sejam submetidas a um cultivo de preparação do terreno para que a
mesma seja colhida mecanicamente.
3.1.
TRATOS CULTURAIS DA CANA PLANTA.
A necessidade de preparar a superfície do
terreno para facilitar a colheita mecânica dos canaviais faz com que canaviais
em estágio de cana-planta sejam submetidos a operações de escarificação para
rebaixar a parte elevada das entrelinhas. Este trabalho deve ser feito por vota
dos 45 a 60 dias depois do plantio, antes do fechamento da cultura. Ele
consiste no rebaixamento do lombo deixado na entrelinha depois de realizado o
plantio e tem a finalidade de nivelar a superfície do solo para a facilitar a
colheita mecânica. Estes tratos
culturais são realizados com equipamentos podem executar simultaneamente
aplicação de inseticidas, adubações complementares (cobertura) e o próprio
trabalho de nivelamento do terreno (figura
3.1.a.). Esta operação de rebaixamento do lombo é realizada com tratores de
potencia entre 85 e 140Hp, dependendo do tamanho do equipamento utilizado para
o trabalho.
Esta operação é realizada com equipamentos
constituídos por hastes subsoladoras reguladas para operar a pouca
profundidade. Elas estão montadas em equipamentos utilizados para o cultiva de
forma geral e estão equipadas com adubadeiras e um conjunto de grades ou rolos
para quebrarem os torrões levantados pelas pontas dos escarificadores (figura 3.1.b.). A aplicação de
fertilizantes complementando a adubação básica colocada no fundo do sulco por
ocasião do plantio será função do manejo da fertilidade dos canaviais neste
estagio de desenvolvimento (cana planta).
|
Figura 3.1.a.- Fluxograma
para o planejamento das recomendações e das operações utilizadas para a realização dos tratos
culturais das áreas de cana planta. |
O ato de revolver o solo durante a operação
de escarificação para rebaixar a entre linha para nivelar o solo pode expor as
sementes e dependendo das espécies infestantes encontradas na área será
prudente realizar uma aplicação de reforço para eliminar a nova leva de
sementeira (figura 3.1.b.).
|
|
Foto 3.1.b. – Equipamentos
para a aplicação de fertilizantes químicos em áreas de cana-planta e
aplicação de herbicidas após o rebaixamento das soqueiras. |
De forma geral, as plantas daninhas são em
sua maioria de folhas largas e aparecem em pequena quantidade (importante lembrar
que já houve uma aplicação de herbicida) na entrada do inverno por ocasião do
plantio. Da mesma forma, este revolvimento do solo pode facilitar ou impedir o
aparecimento de pragas de solo e se for necessária a
aplicação de inseticidas no solo, esta operação de escarificação também
proporcionará alternativas para a sua aplicação.
3.2. TRATOS CULTURAIS DA CANA SOCA.
O comportamento semiperene de
desenvolvimento faz com que os canaviais, depois de colhidos, possam ser
preparados para mais uma estação de crescimento e produção da cana-de-açúcar.
Esta preparação inclui um eventual ajuntamento da palha e movimentação ou não
do solo nas entrelinhas da cana. Independente desta operação de movimentação do
solo é fundamental o fornecimento de fontes de nitrogênio e potássio na forma
de N,P,K, ainda que os nutrientes com maiores respostas para as soqueiras sejam
nitrogênio e potássio.
Além da fertilização, são necessários
cuidados com a limpeza dos canaviais, que pode ser obtido com a aplicação de
herbicidas. Eventualmente, e sendo necessário, são aplicados inseticidas de
solo para o controle de pragas que ali ocorram (figura 3.2.a).
De acordo com o fluxograma da figura 3.2.a., a seqüência operacional
inclui as operações de enleiramento, cultivo e aplicação de herbicidas.
|
Figura 3.2.a. - Fluxo da seqüência operacional e ações
realizadas durante os tratos culturais da cana soca. |
3.2.1. Seqüência Operacional
para os Tratos de Soqueiras
As atividades do processo tratos culturais em
cana soca obedece a uma seqüência composta por tarefas que envolvem atividades
de planejamento e operacionais, fruto das definições técnicas adotadas em cada
unidade agroindustrial. Cada uma destas unidades adota procedimentos técnicos e
operacionais específicos para tratar as soqueiras. O fluxograma da seqüência
operacional (figura 3.2.a.) é uma
aproximação para a maioria das operações realizadas para o trato das soqueiras.
Evidentemente, uma unidade produtora adota
apenas algumas das operações mais comuns citadas no referido fluxo. Esta
ilustração tem o objetivo de dar uma visão abrangente do que pode ser a
atividade de tratos das soqueiras e orientar a discussão de como cada uma delas
pode interferir no processo produtivo da cana-de-açúcar.
3.2.1.1.
Utilização da Vinhaça
A adubação das soqueiras nas
lavouras de cana-de-açúcar pode ser conduzida utilizando-se fertilizantes
químicos ou resíduos orgânicos. Em razão da grande quantidade de vinhaça, cuja
riqueza em potássio é elevada e permite adubar uma extensa área, o volume de
área coberta por aplicações de vinhaça dependerá apenas da quantidade de álcool
produzida pelo complexo agroindustrial. Para cada litro de álcool são
produzidos aproximadamente 10 litros de vinhaça. Quanto maior a quantidade de álcool, maior
será a área com cana soca coberta por aplicações de vinhaça. A grande maioria
das vinhaças utilizadas como fonte de potássio para aplicações em soqueiras de
cana-de-açúcar resulta de destilações de mostos (material a ser fermentado)
compostos por melaço e caldo direto da cana, o chamado mosto misto (quadro
3.2.1.1.a.).
|
Quadro
3.2.1.1.a. – Composição média de vinhaça originadas de diferentes composições de
mostos. |
O potássio se destaca como a fração mais
importante dentre os mais importantes nutrientes que são encontrados na
composição da vinhaça. Em quantidades menores, mas com certa significância
aparece o nitrogênio, que, contudo, deve ser complementado com fontes minerais
quando a vinhaça é utilizada para o suprir os principais nutrientes em
canaviais em estágio de soqueira. O fósforo aparece em quantidades mínimas, mas
ainda pode contribuir com aproximadamente 25 a 30kg/ha, quando a vinhaça é
aplicada em torno de 100m3/ha. Os outros
elementos (Ca e Mg) apenas são adicionados ao solo, já que o seu fornecimento
prioritário ocorre com a aplicação de corretivos.
O armazenamento, o transporte e a
aplicação da vinhaça no campo são orientados por normas muito claras
estabelecidas pelos órgãos ambientais de cada estado (fotos 3.2.1.1.b.,
3.2.1.1.c., 3.2.1.1.d.). No caso do Estado
de São Paulo, a CETESB estabelece as normas para o uso do subproduto, as quais
são incorporadas por outros Estados para onde as agroindústrias têm se
expandido.
Como acima referido, as aplicações
de vinhaça são realizadas com base nos conteúdo de potássio. Contudo, as
aplicações mais comuns ficam em volumes ao redor de 80 a 100m3/ha. Caso a
vinhaça possibilitasse a aplicação de volumes mais baixos, a aplicação poderia
ser comprometida por especificações dos equipamentos. Quando a aplicação é
feita através de rolões, a velocidade de recolhimento das mangueiras e dos
aspersores pode dificultar a aplicação de volumes muito baixos.
Os volumes costumeiramente
utilizados (80 a 100m3/ha) são
suficientes para suprir as necessidades de potássio, porém não são suficientes para fornecerem as
quantidades necessárias de nitrogênio. Neste caso, haverá a necessidade de
uma complementação com adubos
nitrogenados.
|
|
Foto 3.2.1.1.b.
– Estrutura impermeabilizada para armazenamento e transporte sobre o
solo. |
|
|
Foto
3.1.1.1.c. – Estrutura para captação e bombeamento. |
|
|
Foto 3.2.1.1.d. – Estruturas para transporte e aplicação em áreas de
soqueiras. |
3.2.1.2. Enleiramento dos Restos de Palha
As áreas com cana, colhidas
manualmente, são freqüentemente trabalhadas para terem os restos da palha, que
são deixados no terreno, aleirados de forma que o terreno fique com a
superfície limpa e facilite a operação de escarificação, aplicação do
fertilizante e deixe preparado do terreno para a aplicação de herbicida (fotos 3.2.1.2.a.).
|
|
Foto 3.2.1.2.a.
– Enleiramento dos
restos de palha de áreas colhida manual e mecanicamente. |
No caso da adoção da colheita
mecânica da cana, os restos de palha são deixados sobre o terreno, podendo ou
não ser aleirados. Ao ficar sobre o terreno pode servir de mecanismo protetor ao
solo minimizando a evaporação da água do solo e de auxilio no controle de parte
de espécies que encontradas nos terrenos cultivados com a cana.
Entretanto, a permanência da
palha sobre o solo tem favorecido o aparecimento de pragas (cigarrinha das
raízes) que dependendo dos níveis de infestação podem provocar severos danos
sobre a produtividade. Por esta razão, em algumas regiões a palha vem sendo
aleirada. A retirada da palha de sobre as linhas de cana é feita deixando-se
duas (colheita mecânica) ou quatro (colheita manual) entrelinhas limpas e uma
com a palha ou apenas afastando-se a palha das linhas de cana (fotos 3.2.1.2.b.) no caso da colheita
mecânica da cana.
|
|
Foto 3.2.1.2.b.
– Equipamento para
afastar a palha da linha de cana e o resultado da proporcionado pela operação
em canaviais colhidos mecanicamente. |
Ainda que a palha possa trazer benefícios para o terreno,
alguns estudos indicam que permanência da
palha sobre o terreno pode levar a condições desfavoráveis para a produção dos
canaviais quando as mesmas permanecem cobrindo todo o terreno cultivado com a
cana (figuras 3.2.1.2.c. e 3.2.1.2.d.).
|
|
Foto 3.2.1.2.c.
– Efeito da retirada
da palha do campo sobre a produtividade agrícola. |
Foto 3.2.1.2.d. – Comportamento
da presença de cigarrinha ao longo do tempo nos canaviais. |
Fonte: Campos, L.H.F. - Revista da STAB – julho /agosto - Vol.
26 - nº 6 - 2008,
Piracicaba, SP. |
3.2.1.3. Fertilização Química das Soqueiras
A adubação química, quando utilizada
de forma exclusiva em canaviais em estágio de soqueiras visa atender as
necessidades dos principais macronutrientes necessários para nutrição da cana.
Também pode ser utilizada como forma de complementar o Nitrogênio demandado
após as aplicações de vinhaça. Estes adubos podem ser fornecidos aos canaviais
tanto na forma sólida, o que é mais comum, ou na forma líquida, este um pouco
menos comum, apesar de ser utilizado por diversas empresas no meio canavieiro.
Ø
No caso da adubação é exclusivamente química, ela é
feita utilizando-se fertilizantes formulados, sólidos ou líquidos, seguindo
determinadas recomendações técnicas (tabela 3.2.1.3.a.). Contudo, na
prática, utiliza-se ao redor de 500kg/ha da fórmula 25-00-25 (125kg de N, zero de P2O5 e 125kg de K2O
por hectare) de o que faria com que a recomendação atendesse
a faixa de produtividade esperada de 110t/ha.
Quadro 3.2.1.3.a. – Recomendação técnica para adubação
de soqueiras de cana-de-açúcar. |
||||||
Produtividade esperada (t/ha) |
Nitrogênio (Kg N/ha) |
ppm de P (Resina (1) |
mmolc/dm3 de K |
|||
< 15 |
> 15 |
0-1,5 |
1,51-3,0 |
> 3,0 |
||
Kg de P2O5 / ha |
Kg de K2O / ha |
|||||
80 |
90 |
40 |
0 |
110 |
80 |
60 |
90 |
100 |
50 |
0 |
125 |
100 |
85 |
100 |
110 |
60 |
0 |
140 |
125 |
110 |
110 |
120 |
80 |
0 |
150 |
140 |
130 |
(1) Extrator para fósforo (IAC) |
O fato de haver uma certa tradição
nas formulações e quantidades recomendadas para a adubação das soqueiras não
deve inibir os técnicos de procurarem utilizar as recomendações tecnicamente
mais desenvolvidas (tabela 3.2.1.3.a.), pois além de proporcionarem maior
racionalização do uso dos fertilizantes, proporciona como contrapartida, ganhos
de produtividade e redução nos custos finais de produção. Ao contrario,
recomendações, como aquelas constantes da tabela acima, deveriam ser
rotineiramente avaliadas, para verificar o seu nível de atualidade (tabela 3.2.1.3.b.).
Tabela 3.2.1.3.b. – Resultados para a
produtividade agrícola (t/ha) de cana para doses crescentes de fertilizantes
N, P2O5, e K2O. |
||||
Quantidade aplicada em kg/ha |
|
Produtividade |
||
N |
P2O5 |
K2O |
Épocas
de aplicação |
(t/ha) |
0 |
0 |
0 |
|
76,83 |
50 |
0 |
75 |
Todo
no cultivo |
84,20 |
75 |
0 |
100 |
Todo
no cultivo |
86,74 |
100 |
0 |
125 |
Todo
no cultivo |
88,84 |
50 |
0 |
75 |
1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses |
92,35 |
75 |
0 |
100 |
1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses |
89,69 |
100 |
0 |
125 |
1/2 no cultivo e 1/2 aos 3 meses |
90,38 |
Fonte:
Miller, L.C. e Medeiros, A.M.L. – Relatórios internos do DTA / Usina São João
– safras 1977/78 a 1980/81. |
Ø
A aplicação de adubo nitrogenado para a fertilização
complementar da quantidade de N proporcionada pela aplicação de vinhaça
mostra-se bastante efetiva em algumas aplicações (tabela 3.2.1.3.c.). Contudo, quando analisado num conjunto substancial
de dados este efeito do nitrogênio torna-se mais evidente. A recomendação
corrente indica aplicações de aproximadamente 100kg de N /ha, nas diferentes
fontes disponíveis no mercado. Quando for utilizada a uréia como fonte de N
complementando a aplicação da vinhaça,
recomenda-se que a mesma seja incorporada ao solo. Entretanto, a
utilização de Sulfato de Amônio não demanda o mesmo cuidado, podendo permanecer
por algum tempo na superfície do solo.
Tabela
3.2.1.3.c. – Efeito da complementação
com nitrogênio (Uréia) em três tipos de solos, cultivados com cana soca. |
||||
Tratamentos |
Tipos de Solos |
|||
Básico |
Complementar Uréia |
LR |
TE |
LVe |
Testemunha |
0 |
103,3 |
112,4 |
72,9 |
360 kg/ha de 20-00-32 |
0 |
114,6 |
145,3 |
85,2 |
90m3 de vinhaça |
0 |
122,0 |
126,8 |
79,5 |
90m3 de vinhaça |
100 |
126,3 |
149,4 |
88,9 |
90m3 de vinhaça |
133 |
128,9 |
|
|
90m3 de vinhaça |
200 |
130,6 |
127,8 |
86,2 |
90m3 de vinhaça |
266 |
126,8 |
|
72,9 |
Fonte: GLORIA, N. A. da -
3º
Congresso Nacional da STAB, agosto de 1984, São Paulo. |
A atuação de adubações fosfatadas em
soqueiras não se mostra muito efetiva, a menos que os solos onde forma implantados
os canaviais se apresentem com conteúdos demasiadamente baixos do referido
nutriente. Avaliações experimentais conduzidos nas principais regiões
produtoras de cana através de experimentos específicos mostram claramente que o
fósforo residual de aplicações realizadas durante o plantio da cana-planta são
suficientes para suprir a demanda das soqueiras.
Medeiros (1988) relata experiência
com uma avaliação deste comportamento do fósforo em experimento conduzido num
solo de textura média para arenosa, sob vegetação natural de cerrado e com
baixíssimo conteúdo de fósforo (2ppm extraídos através de RESINA trocadora)
para avaliar o efeito residual do P aplicado em cana-planta. Os resultados
mostram que o fósforo aplicado na cana-planta foi bastante efetivo até a 2ª
soca, (equivalente ao 3º corte) para as doses equivalentes àquelas recomendadas
tecnicamente (150kg/ha de P2O5) para o plantio de cana (tabela
3.2.1.3.e.). Tal
anormalidade pode ser verificada observando-se o efeito das adubações com
fósforo realizadas nas soqueiras, suplementando a dose de (150kg/ha de P2O5) da adubação
residual (aquela aplicada no plantio).
Os nutrientes Nitrogênio (125kg/ha
de N) e Potássio (125kg/ha de
K2O)
também foram fornecidos às soqueiras em todos os cortes, na forma de produtos
químicos sólidos, obedecendo sempre às recomendações rotineiramente utilizadas
na Empresa.
Tabela 3.2.1.3.e.
– Demonstração do efeito residual em soqueiras do fósforo aplicado em
cana-planta. |
|||||||||||||
Adubação (kg de P2O5 /
ha) |
Produtividade (t de cana / ha) |
||||||||||||
Tratamento (T) |
Sub-tratamentos (S.T.) |
(T) |
(T) |
(S.T) |
(T) |
(S.T) |
(T) |
(S.T) |
|||||
Cana
Planta |
1ªSoca |
2ªSoca |
3ªSoca |
C. Planta |
1ªSoca |
2ªSoca |
3ªSoca |
||||||
|
0 |
0 |
0 |
|
|
69 |
|
63 |
|
54 |
|||
0 |
45 |
0 |
45 |
61 |
86 |
89 |
84 |
87 |
78 |
86 |
|||
|
90 |
0 |
90 |
|
|
102 |
|
103 |
|
93 |
|||
|
0 |
0 |
0 |
|
|
116 |
|
98 |
|
72 |
|||
150 |
45 |
0 |
45 |
128 |
116 |
120 |
106 |
111 |
83 |
88 |
|||
|
90 |
0 |
90 |
|
|
112 |
|
109 |
|
88 |
|||
|
0 |
0 |
0 |
|
|
119 |
|
114 |
|
81 |
|||
300 |
45 |
0 |
45 |
131 |
119 |
120 |
114 |
112 |
86 |
90 |
|||
|
90 |
0 |
90 |
|
|
119 |
|
116 |
|
88 |
|||
Fonte:
Medeiros, A.M.L. - Seção de Nutrição e Fertilidade, DTA, Usina São João de
Araras /SP, 1988. |
|||||||||||||
Se no estágio de cana planta a
demanda por adubação nitrogenada é relativamente baixa, na condição de cana
soca esta demanda é mais elevada e o efeito da quantidade do nutriente é bastante
pronunciado sobre o desenvolvimento da planta. O potássio por sua vez apresenta
ganhos constantes quando aplicados, porém sempre com pequenas amplitudes sobre
os ganhos de produtividade da cana.
3.2.1.3.1.Cultivo
e Aplicação do Fertilizante (Tríplice Operação)
As aplicações de
fertilizantes químicos (cana soca) e a operação de nivelamento da entrelinha
(cana-planta) de cana podem realizadas com os mesmos tipos de equipamentos (fotos 3.2.1.3.1.a.). Em ambas as situações, a operação é realizada
utilizando-se de um equipamento que efetua ao mesmo tempo três operações (por
isso denominada de tríplice operação): a aplicação do fertilizante líquido ou
sólido (caso esteja indicado), uma
escarificação superficial (10 a 15cm) e o destorroamento dos torrões maiores
levantados pelas hastes, cujo elemento de atuação pode ser um conjunto de
grades ou um rolo composto por cantoneiras de ferro.
Este conjunto localizado na
parte posterior do equipamento ajusta a sistematização do terreno para
facilitar o trabalho da colhedeira mecânica e prepara o solo para aplicações de
herbicidas tanto na cana planta, quanto na cana soca, especialmente na cana
soca, quando a escarificação é adotada como prática de cultivo.
A escarificação do solo
isoladamente não apresenta efeitos sobre a produtividade de cana, enquanto
operação para a movimentação do solo. As hastes subsoladoras efetivamente
movimentam o solo até a profundidade de 15 a 20cm e o conjunto de grades ou
rolos quebram eventuais blocos de tamanho avantajado.
Este trabalho certamente
prepara o solo para aplicações de herbicidas em pré-emergência e facilita a
incorporação dos mesmos aos agregados do solo.
|
|
Foto 3.2.1.3.1.a.
– Equipamentos para a aplicação de fertilizantes químicos em áreas de
soqueiras. |
Estudos conduzidos para a
avaliação da eficiência da operação foram desenvolvidos por diferentes
instituições (tabela 3.2.1.3. 1.b.) e raramente
observaram resultados significativos para a operação isoladamente.
Tabela 3.2.1.3.1.b. – Produtividade agrícola para tratamentos de
subsolagem em soqueiras e adubação. |
||
Tratamentos |
Nº de
colmos/ m |
t de cana/ ha |
A
-Testemunha não adubada |
11,0 |
80,4 |
B -
Adubação Superficial 15 dias |
12,9 |
105,3 |
C - Subsolagem
20 cm e adubação em profundidade 15 dias após o corte |
12,0 |
99,5 |
D -
Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 30 dias após o corte |
11,4 |
94,8 |
E -
Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 45 dias após o corte |
11,9 |
96,1 |
F -
Subsolagem 20 cm e adubação em profundidade 60 dias após o corte |
11,7 |
97,6 |
G -
Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 15 dias após o corte |
11,8 |
97,6 |
H -
Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 30 dias após o corte |
10,7 |
90,2 |
I
- Subsolagem 40 cm e adubação em
profundidade 45 dias após o corte |
11,5 |
89,7 |
J -
Subsolagem 40 cm e adubação em profundidade 60 dias após o corte |
12,1 |
96,4 |
Fonte:
V. L. FURLANI NETO*; J. FERNANDES*; R. STOLF*; A. J.
ROSSETTO**; L. C. MILLER**; A. M. L. MEDEIROS** - 3º Congresso
Nacional da STAB, realizado entre 19 e 24 de agosto de 1984. Pg. 55-59. |
No referido trabalho, conduzido em canaviais
com socas de terceiro corte, a adubação superficial cobrindo-se o adubo com uma
fina camada de terra sobre a soqueira, não diferiu da adubação em profundidade,
associada à subsolagem com hastes providas de duas pequenas aletas, uma de cada
lado da haste, trabalhando entre 20 e 40cm de profundidade. Os tratamentos
forma aplicados entre 15 e 60 dias após o corte da cana.
Apesar de ser um instrumento eficaz na
descompactação dos solos, a aplicação do equipamento mostrou que em épocas secas
pode apresentar efeito danoso nas soqueiras, quando ela trabalha em ambos os
lados da soqueira.
3.2.2.
Proteção Fitossanitária dos Canaviais.
Como qualquer outra cultura, as lavouras de cana-de-açúcar também
precisam de proteção contra a concorrência de fatores limitadores da
produtividade. Dentre eles encontram-se as plantas daninhas e as pragas (de
solo e da parte aérea). Cada um destes fatores de perda tem a sua
especificidade e atuam de maneiras particulares na limitação do desenvolvimento
das plantas.
Independentemente do estágio (cana
planta ou soqueira) em que se encontrem os canaviais os controles
fitossanitários devem se empregados para evitar perdas de produtividade e
qualidade da matéria-prima. Dentre estes cuidados fitossanitários destacam-se
prioritariamente o controle das plantas daninhas, seguido do controle de
pragas, fatores estes que podem impor os maiores volumes de perdas às lavouras
de cana-de-açúcar, quando manejados incorretamente.
3.2.2.1. Controle das Plantas Daninhas
Como em qualquer outra cultura, os efeitos
da presença do mato durante os períodos iniciais de desenvolvimento da cultura
da cana-de-açúcar, pode causar significativas perdas de produtividade (t/ha)
quando a população destas plantas daninhas não é eliminada ou mantida em níveis
bem baixos.
A ausência de um controle eficaz do mato e
a perenidade característica da cultura da cana são condições que favorecem a
concorrência competitiva promovidas pelas plantas daninhas. A permanência dos
canaviais nos campos sob longos períodos – entre o nascimento e a colheita –
torna as plantas sujeitas às interferências do mato sobre a produtividade.
A concorrência e a competição são os dois
conceitos que permitem caracterizar os graus de interferência das plantas daninhas
sobre o desenvolvimento da cultura. A partir do momento em que a planta daninha
germina e inicia seu desenvolvimento, ela passa a concorrer, no mesmo espaço
físico, em água e nutrientes com a planta cultivada. Dependendo de seu porte e
hábito, a planta daninha permanecerá durante o seu desenvolvimento convivendo
no mesmo espaço, apesar dos danos causados ao desenvolvimento da lavoura
cultivada. Porém, na medida em que a planta invasora apresenta hábito mais
agressivo, ela passará a competir pelo espaço físico, causando danos
sensivelmente drásticos à cultura.
Comumente, lavouras implantadas em solos de
média fertilidade, com características físicas adequadas e adubadas
convenientemente, que poderiam atingir elevado número de cortes (6 a 8) com
produtividades economicamente viáveis, têm estas duas condições afetadas,
dependendo do grau de infestação de plantas daninhas a que são expostas.
Na cana-de-açúcar, estes danos podem determinar a reforma do
canavial, em dois ou três anos após o seu plantio. Isto pode acontecer, por
exemplo, com canaviais plantados em áreas de antigas pastagens, cultivadas com
braquiárias forrageiras. Nestas áreas, quando o controle não é adequadamente
realizado, os canaviais raramente atingem o terceiro corte e com produções acima
de 50 t/ha.
3.2.2.1.1. Hábitos de Crescimentos das
Plantas Daninhas
Toda planta presente em um campo de cultivo que não seja da
espécie cultivada naquela área, que concorra dentro do mesmo ambiente por água,
luz, espaço físico e nutriente pode ser caracterizada como planta daninha. Esta
caracterização pode levar uma planta cultivada comercialmente em um momento
tornar-se daninha quando convivendo com outra espécie também cultivada
comercialmente.
Contudo, a maioria das espécies caracterizadas como planta
daninha não tem valor comercial, apresentam elevada rusticidade e causam
severas perdas para as plantas cultivadas quando ocorrem em grandes quantidades
nos campos cultivados. Na cana-de-açúcar isto não é diferente e apesar de sua
rusticidade a presença de plantas daninhas pode impor pesadas perdas de
produtividade. As plantas daninhas são comumente caracterizadas pelos seus
ciclos de crescimento e de desenvolvimento.
Ø
Plantas
de hábito anual – são aquelas que tem um ciclo completo em um ano, germinando,
desenvolvendo, florescendo e produzindo sementes neste intervalo de tempo;
Ø
Plantas
de hábito bi-anual – são plantas que completam os seus ciclos vegetativos em
dois anos, sendo que no primeiro ano se desenvolvem vegetativamente e no
segundo se reproduzem;
Ø
Plantas
de hábito perene – são plantas com características distintas entre as espécies,
mas que depois de um período de desenvolvimento, passam a se reproduzir
anualmente.
3.2.2.1.2. Tipos de Aplicação
de Herbicidas e da Caracterização dos Produtos
Os tipos e momentos de aplicação de um herbicida estão
condicionados às características dos produtos e aos estágios de desenvolvimento da planta
daninha. Estas duas características conferem à aplicação do produto e ao
próprio produto uma classificação importante para as indicações dos
procedimentos indicados para o controle do mato, quando se materializa uma
recomendação de controle.
a) Quanto aos tipos de aplicação: os tipos de aplicação e utilização dos produtos
podem servir para conferir alguma caracterização das aplicações de herbicidas:
Ø
Aplicação como Esterilizante de Solo: são aplicações com produtos de amplo
espectro de atuação, visando controlar o maior número de espécies de plantas
daninhas pelo maior tempo possível. Este tipo de aplicação é utilizado em
pátios industriais, áreas de ocupação com estrada de ferro, áreas de cercas nas
pastagens, etc.
Ø
Aplicações em Pré-Plantio: Aplicações em pré-plantio são realizadas
para o controle de plantas daninhas quando o produto precisa ser incorporado ao
solo, quando a cultura principal necessita de um tempo de permanência no solo
para ela ser plantada ou em áreas com cultivo mínimo. É relativamente pouco
utilizado na cultura da cana, mas pode-se citar como exemplo a eliminação dos
restos de cana quando se pretende plantar com cultivo mínimo, aplicações
incorporadas de trifluralin para o plantio de
leguminosa ou alguns produtos que poderiam trazer danos à cultura em
determinadas dosagens ou momentos de aplicação.
Ø
Aplicações em Pré Emergência: São aplicações realizadas antes do início
da emergência das plantas daninhas, não necessariamente antes da cultura.
Ø
Aplicações em Pós Emergência: São aplicações realizadas após a
emergência da planta daninha. Em determinadas condições pode ser denominada
como capina química.
b) Quanto ao tipo de ação do produto que pode indicar a sua classificação nos
dois principais modos de suas atuações.
Estas características não são
necessariamente excludentes entre si, possibilitando que um produto
indicado para aplicações em uma forma não tenha sua eficácia na outra. O que
fará diferença será o comportamento em que cada produto apresentará a sua
melhor ação sobre o mato:
Ø
Ação em pré-emergência: Neste tipo de ação são posicionados produtos,
cuja aplicação, para expressar a sua eficácia, deve ocorrer antes da emergência
dos primórdios vegetativos das sementes das plantas daninhas, seja através da
emissão das radículas nas gramíneas, ou através da liberação dos cotilédones
nas dicotiledôneas. É a forma mais comum de aplicação de herbicidas e a mais
presente nos diferentes produtos disponíveis no mercado.
Ø
Ação em pós-emergência: São produtos cujas características mais
destacadas estão relacionadas com a absorção foliar. São aplicados após o
nascimento das plantas daninhas e como podem ser danosos para a cultura
principal demandam cuidados especiais quando da sua aplicação para o controle
das espécies infestantes da cultura.
3.2.2.1.3. Danos das Plantas Daninhas nos
Canaviais.
As plantas daninhas crescem e povoam as áreas cultivadas nas
mesmas épocas que as culturas cultivadas também expressam as suas máximas
competências de crescimento e desenvolvimento (figura 3.2.2.1.3.a.).
Portanto, se a presença de plantas daninhas é danosa para a
cultura da cana, ao concorrer por espaço, nutrientes e água, a sua eliminação
nestes períodos será um fator de grande importância para a produtividade da
cana. Nas curvas de crescimento e produtividade de massa verde da figura 3.2.2.1.3.a.as produtividades são uma
estimativa média para os canaviais dos estados da região centro-sul do Brasil.
No caso da massa verde do mato, estas serão quantidades máximas que poderão ser
observadas. De forma geral, as quantidades de massa verde das plantas
infestantes não atingirão os valores máximos expostos no gráfico.
Entretanto, o comportamento da curva de crescimento para as
plantas daninhas expressa o comportamento da curva presencial das espécies
daninhas nos diferentes momentos do ano agrícola. Assim, para cada condição de
condução do canavial a presença da planta daninha terá um comportamento
específico e um determinado nível de dano à produção agrícola, dependendo do
volume de mato e das espécies infestantes
existente na área cultivada.
|
Figura 3.2.2.1.3.a. – Curvas de crescimento da cana e da planta
daninha. |
a) Efeito
sobre a Cana de Ano: O
plantio da cana de ano é realizado entre os meses de setembro e outubro,
coincidindo, portanto, com o momento de maior desenvolvimento das plantas daninhas.
Nesta época as condições climáticas, temperatura e umidade, são bastante
favoráveis para o crescimento vegetal na região Centro Sul do Brasil. Algumas
observações experimentais mostram que canaviais plantados nestas épocas e
submetidos a uma acentuada concorrência do mato durante diferentes fases de seu desenvolvimento, podem ser
intensamente afetados pela presença da planta daninha (tabela 3.2.2.1.3.b.).
Tabela 3.2.2.1.3.b. - Perdas de produtividade em cana de ano em razão da
concorrência do mato. |
|||
Tratamento |
T cana
/ha |
Perdas por matocompetição |
Pol %
cana |
Com
Competição durante 1mês |
37,50 a |
0,9 |
14,44 |
Com
Competição durante 2 meses |
33.98 a |
10,2 |
14,33 |
Com
Competição durante 3 meses |
24,70 b |
34,7 |
13,89 |
Com
Competição durante 4 meses |
7,99 c |
78,9 |
14,59 |
Com
Competição durante 5 meses |
6,30 c |
83,4 |
14,36 |
Sem
competição durante 1 mês |
23,86 b |
37,0 |
14,76 |
Sem
competição durante 2 meses |
33.43 a |
11,7 |
14,62 |
Sem competição
durante 3 meses |
36,95 a |
2,4 |
14,31 |
Sem
competição durante 4 meses |
37,15 a |
1,8 |
14,42 |
Sem
competição durante 5 meses |
36,46 a |
3,7 |
14,05 |
Com Competição durante todo o ciclo |
5,11 c |
86,5 |
13,95 |
Sem Competição durante todo o ciclo |
37,85 a |
0,0 |
14,30 |
Fonte: Rolim, J.C. - Revista Saccharum, Ano V - N 22 – 1982. |
Neste estudo a população de plantas daninhas era ocupada prioritariamente
por gramíneas da espécie brachiaria (capim marmelada), sabidamente muito
competitiva para com as plantas cultivadas (tabela 3.2.2.1.3.c.).
As produtividades baixas são fruto de uma geada que paralisou o crescimento das
plantas próximo dos 10 meses de idade.
Tabela 3.2.2.1.3.c.- Infestação de Plantas Daninhas aos 90
dias após o Plantio, nº de plantas /m2 e composição percentual da infestação (dados médios de
quatro repetições). |
||
Espécies
infestantes |
Nº de Plantas/ m’ |
% de infestação |
Capim-marmelada, Brachiaria plantaginea. |
21,25 |
50,11 |
Capim-colchão, Digitaria sanguinalis. |
11,92 |
28,11 |
Poaia branca, Richardia brasiliensis. |
5,83 |
13,75 |
Beldroega, Portulaca oleraceae. |
2,83 |
6,67 |
Guanxuma, Sida spp. |
0,58 |
1.36 |
Total |
42,41 |
100,00 |
Biomassa
seca (g) |
362,23 |
|
Os dados obtidos neste estudo, conduzido com cana de ano,
mostram que as produtividades podem apresentar perdas de até 86% da produtividade
final de cana ao compara-se o tratamento onde a cana foi continuadamente
mantida no limpo com o tratamento onde a cana foi deixada todo o tempo sob
total concorrência do mato, em cuja população florística encontrava-se
basicamente gramíneas (gráfico 3.2.2.1.3.d.)
Gráfico 3.2.2.1.3.d.- Comportamento
das perdas de produtividade em cana de ano. |
|
Fonte: Rolim, J.C. - Revista Saccharum, Ano V - N 22 – 1982. |
b) Efeito
sobre a Cana de Ano e Meio:
A cana de ano e meio é plantada normalmente a partir do mês de fevereiro,
estendendo-se até o mês de abril. Nesta época, as chuvas começam a diminuir e a
curva de presença do mato começa a entrar em declínio. Desta forma, os efeitos
do mato passam apresentar uma tendência de menores efeitos sobre a
produtividade da cana.
Obviamente, a população florística e a capacidade infestante
das sementes encontradas na área serão determinantes na potencialidade de danos
das plantas daninhas sobre o canavial, caso as mesmas não sejam devidamente
eliminadas. Através de estudo conduzido para avaliar o potencial de dano de
espécies daninhas em cana planta de ano e meio pode determinar os danos sobre a
produtividade de cana.
Os dados sobre as espécies não definem o tamanho da ocupação
da superfície pelas plantas daninhas, apenas a participação de cada espécie.
Observando-se as espécies presentes neste ensaio, fica evidente que elas não
apresentam a mesma potencialidade de dano que a da população de plantas
daninhas encontrada no ensaio conduzido para cana de ano (tabela 3.2.2.1.3.e.).
Tabela 3.2.2.1.3.e.- Composição
florística das plantas daninhas presentes no ensaio. |
||
ESPÉCIES INFESTANTES |
Valores Médios de 6 Parcelas |
|
Densidade - Plantas /m2 |
Participação
(%) |
|
Capim Colchão,
Digitaria sanguinalis |
33 |
61,10 |
Guanxuma, Sida spp |
18 |
33.30 |
Diversos
(outras espécies) |
3 |
5,60 |
TOTAL |
54 |
100,00 |
Comparando-se as magnitudes de perdas, observa-se que as
perdas na cana de ano apresentaram valores significativamente maiores que
aquelas observadas no ensaio com cana de ano e meio. Ainda que as condições
climáticas naturais contribuam para minimizar as capacidades de danos das
plantas daninhas nesta época do ano, a ausência de cuidados no controle das
plantas daninhas poderá ser muito danoso para os canaviais (tabela 3.2.2.1.3.f.).
As perdas relatadas para o ensaio em cana de ano e meio estão
expressas em forma de gráfico para facilitar a visão da magnitude das perdas em
produtividade (gráfico 3.2.2.1.3.g.).
Estas considerações sobre potencialidade de danos conforme os
níveis de infestação das plantas daninhas são direcionadas basicamente para
espécies infestantes anuais.
Contudo, devemos considerar as espécies perenes como fonte de
concorrência para com a produtividade agrícola da cana. Elas permanecem nos
canaviais durante os estágios de soqueiras e são muito mais danosas para a
produtividade agrícola do que as plantas daninhas com hábitos anuais.
Tabela 3.2.2.1.3.f. - Perdas de produtividade em cana de ano e meio em
razão da concorrência do mato. |
|||||
Tratamentos |
Código |
Discriminação |
Produção (t/ha) |
Colmos por m’ |
|
|
|
|
A -
Controlo total do mato |
||
01 |
L |
30 |
até 30 dias |
88,08 |
10,37 |
02 |
L |
60 |
até 60 dias |
89,28 |
11,53 |
03 |
L |
90 |
até 90 dias |
96,42 |
10,03 |
04 |
L |
120 |
até 120 dias |
96,81 |
11,07 |
05 |
L |
150 |
até 150 dias |
92,85 |
10,27 |
|
|
|
B -
Abandonado à livre competição |
|
|
06 |
M |
30 |
até 30 dias |
100,39 |
10,37 |
07 |
M |
60 |
até 60 dias |
92,85 |
9,67 |
08 |
M |
90 |
até 90 dias |
87,69 |
9,33 |
09 |
M |
120 |
até 120 dias |
76,97 |
9,70 |
10 |
M |
150 |
até 150 dias |
79,35 |
9,67 |
|
|
|
C -
Controle químico |
|
|
11 |
H |
1 |
*Diuron (2,0) + **2,4D, amina (2,0) |
92,85 |
10,97 |
12 |
H |
2 |
***Tebuthiuron (1,5) |
92,05 |
10,97 |
*Karmex800 (DuPont) **DMA-6 (Dow) e ***Perflan800 (Elanco), em kg ou l /ha do P. C. |
|||||
|
Gráfico 3.2.2.1.3.g.- Comportamento
das Perdas de Produtividade em cana de ano e meio. |
|
Fonte: Coleti, J.T. - Revista
Saccharum, Ano V - N 22 – 1982. |
Conviver com plantas daninhas de hábito perenes é sempre
indesejável, além de ser muito trabalhoso, elevar os custos operacionais,
diminuir a produtividade e demandar cuidados diferenciados para o seu controle.
Para que o controle destas espécies seja mais eficiente, ele deve iniciar-se
com a preparação do solo, onde se deve investir para reduzir ao mínimo a
população das plantas daninhas com estes hábitos.
Aplicações em pós-emergência para o controle destas plantas
devem ser conduzidas apenas nos primórdios vegetativos. Nunca se deverá
permitir que logo após o nascimento, ainda em está de cana planta os canaviais
sejam tomados por infestações pesadas de espécies com hábito perene.
c) Efeito
sobre a Cana Soca: Uma observação
das curvas de crescimento de matéria verde constantes do gráfico da figura 3.2.2.1.3.a. percebe-se que durante a safra as condições de
umidade são desfavoráveis para o crescimento vegetal. A partir do início das
chuvas a cana e o mato e as soqueiras iniciam as suas fases de crescimento,
condição esta que começa aproximadamente a partir do mês de outubro.
As áreas com canaviais em estágio de soqueiras representam
aproximadamente 75% da área total cultivada com cana em um empreendimento
agroindustrial. O fato de os canaviais neste estágio de desenvolvimento terem
sido submetidos a aplicações anteriores de herbicidas, faz com que o potencial
de infestação de plantas daninhas tendam a ser menores.
Isso não é casual. Os programas de herbicidas normalmente
contemplam aplicações de herbicidas mais eficientes e caros para o controle das
plantas daninhas por ocasião do plantio e nos primeiros cortes. Com este
procedimento promove-se um relativo despraguejamento
da área, possibilitando a aplicação de produtos mais baratos nos cortes
posteriores, sem comprometer a qualidade do controle de plantas daninhas.
Neste conjunto de produtos disponíveis no mercada para serem
utilizados em cana soca existem aqueles com maiores níveis de solubilidade e
menores níveis de susceptibilidade à decomposição pela luz do sol. Isto
facilita aplicações em áreas colhidas nos momentos de menor disponibilidade
hídrica (chuva) e permite que a aplicação seja continuada durante todo o
período de safra.
Por outro lado, os produtos que demandam maiores níveis de
umidade no solo e são mais sensíveis à foto decomposição podem ser recomendados
para aplicações após o inicio das chuvas, o que coincide com a metade final da
safra.
A utilização deste procedimento na recomendação e uso de herbicidas,
adequando os produtos para os seus melhores momentos de atuação sobre o mato,
proporciona os melhores níveis de controle do mato e um maior aproveitamento
das máquinas disponibilizadas nas empresas para este tipo de trabalho.
3.2.2.2. Aplicação de Herbicidas (seqüência
operacional dos tratos culturais).
As aplicações de herbicidas são majoritariamente realizadas
utilizando-se de tratores equipados com tanques que permitem uma cobertura mais
abrangente do solo (figura 3.2.2.2.a.).
Isto acontece tanto em canaviais em estágio de cana planta como em soqueiras.
Aplicações manuais devem ser vistas como uma complementação do trabalho
mecanizado, tendo como finalidade controlar as plantas que por alguma razão
escaparam do controle que deveria ser proporcionado pela aplicação básica.
Os produtos, por sua vez, necessitam de condições prévias do
solo para mostrarem o seu potencial na eficiência do controle do mato. Três
condições são muito importantes para garantirem a eficácia de um produto herbicida
para controlar espécies infestantes das áreas cultivadas.
|
|
Figura 3.2.2.2.a. – Aplicação de herbicidas em áreas com cana
planta. |
Figura 3.2.2.1.b. – Aplicação de herbicidas em áreas com
soqueiras. |
Ø
Disponibilidade hídrica: A umidade existente no solo exerce um
papel importante na adsorção do produto às partículas do solo. Durante a sua
incorporação ao solo, a umidade faz com que os ingredientes ativos dos produtos
atinjam o maior volume possível de partículas no seu processo de incorporação
ao solo. Ao proporcionar esta movimentação do produto no solo, esta fase líquida do solo também proporciona
a entrada do ingrediente ativo na planta, seguindo o fluxo natural de líquidos
para o interior da planta.
A umidade do solo é um fator que precisa se manejado com
cuidado, pois assim como pode facilitar o encaminhamento do produto para o
interior da planta, também pode criar restrições ao uso de determinados
produtos. O excesso ou a falta de umidade são fatores importantes nas relações
dos produtos com as plantas e com o ambiente.
A relação entre solubilidade do produto herbicida e a
disponibilidade de umidade nos solos é vital para o bom funcionamento dos
produtos no controle do mato. Assim, produtos com elevada solubilidade não são
recomendados para serem aplicados em épocas com elevado nível de pluviosidade.
Dependendo da quantidade de água no solo, o principio ativo do produto poderá
ser conduzido para zona radicular com maior nível de atividade e, desta forma,
deixar seqüelas às plantas ali
cultivadas.
Por outro lado, produtos mais restritivos com relação à
solubilidade, que necessitam um nível maior de umidade no solo para funcionarem
a contento, podem sofrer limitações na sua atuação sobre o controle das plantas
daninhas. A umidade é sempre fundamental para que o produto se movimente no
solo e chegue às zonas radiculares. Contudo, estes momentos de umidade no solo, assim como as quantidades
disponíveis de água devem ser bem manejadas conforme as características de cada
um dos produtos que serão utilizados para o controle do mato.
Ø
Destruição Mecânica do Mato Remanescente: Aplicações em pré-emergência necessitam a
superfície do solo absolutamente sem mato, preferencialmente sem a presença de
sementes em estado pré-germinativo. A operação de revolvimento do solo,
realizada antes do plantio ou durante a operação de cultivo das soqueiras,
funciona como uma espécie de reforço para avolumar o efeito do herbicida no
controle da planta daninha.
A última passada de grade leve, imediatamente anterior ao
plantio, tem um efeito muito forte no auxílio ao efeito do herbicida sobre o
mato. Para isso, ela deveria ser feita
num intervalo variando desde algumas horas antes da sulcação até eventualmente
um ou dois antes da realização do plantio. É tão importante, que deveria ser
uma responsabilidade do encarregado pelo plantio realizá-la e não ficar sob a
responsabilidade do encarregado da preparação do solo.
Realizada neste momento, a operação faz com que parte das
plantas daninhas recém germinadas ou que eventualmente já possuam alguns pares
de folhas sejam totalmente destruídas pelo implemento. Aplicando este tipo de
procedimento, uma parcela significativa do estoque de semente perde-se e os
herbicidas previstos para atuar em pré-emergência das plantas daninhas poderão
atuar no solo concomitantemente ao início da germinação de uma nova leva de
sementeira.
Esta eliminação de material vegetal germinativo otimiza o
efeito dos herbicidas. Os produtos atuam no máximo nos primeiros dois a três
centímetros de profundidade no solo. Portanto, qualquer semente, cujo primórdio
radicular que fique abaixo desta linha de atuação, deixará de absorver o
produto e, portanto, será poupada.
Assim, sementes que tenham emitido seus primórdios radiculares ou os
seus cotilédones deixarão de constituir ameaça. Ao aplicar a operação com
grade, promove-se o trabalho de destruição do material vegeta, poupando parte
do ingrediente ativo do produto.
Para aproveitar este efeito da operação mecânica no controle
da sementeira é fundamental que depois de plantados, os campos recebam as
aplicações de herbicidas logo em seguida, não deixando passar mais que dois a
três dias depois da realização do plantio da cana.
Ø
Atuação do Cultivador de Soqueiras ou
Planta: Os diferentes
produtos disponíveis no mercado possibilitam os mais diferentes tipos e
combinações de produtos para utilizar-se no controle das plantas infestantes
nas socas dos canaviais. Na forma tradicional de conduzir canaviais, a palha é
aleirada, o solo é escarificado ao mesmo tempo em que
se aplica o adubo, o solo é destorroado e aproveitando esta preparação do solo
aplica-se o herbicida de soqueiras em seguida.
Entretanto, se o procedimento é diferente da forma
tradicional, existem produtos muito bons, resistentes à decomposição e com
poder residual relativamente longo, que podem ser aplicados sem que o terreno
seja movimentado. Contudo, caso haja movimentação do solo, os agregados
deixados depois de realizada a operação, não deverão
ser de tamanho elevado, maiores do que oito (8) a dez (10) centímetros de
diâmetro.
Nestes casos, o produto irá penetrar nestes agregados até a
profundidade usual, ficando a parte central do torrão sem o produto. Quando as
chuvas têm inicio, o torrão perde superfície por desgaste da água da chuva e as
sementes que restaram no núcleo não atingido pelo produto germinam e infestam o
terreno nestes pontos. Utilizar herbicidas não constitui apenas em realizar
aplicações dos produtos. Implica em estar antenado para todas as variáveis do
ambiente e das plantas interagindo com o produto para garantir a eficácia dos
mesmos no controle das plantas daninhas que regularmente infestam os canaviais
cultivados.
(1)
Engenheiro agrônomo, formado pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de
Botucatu, atualmente UNESP, campus de Botucatu, em 1973.